Autor de quase uma centena de obras, produzidas em mais de seis décadas dedicadas à literatura, o escritor porto-alegrense Carlos Nejar é o patrono da 68ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre. Ocupante da cadeira número quatro da Academia Brasileira de Letras, é reconhecido pela riqueza de seus textos, entre poesias, ensaios, contos, críticas literárias e literatura infantojuvenil. Aos 83 anos, Carlos Nejar sucede o filho Fabrício Carpinejar na posição de patrono do evento literário.
“Será um momento de muita alegria, muita honra e, sobretudo, de reencontro com o meu Rio Grande. Me puseram o título de patrono por generosidade, mas sou um servidor da Feira do Livro, quero servir, participar. Estou muito feliz por suceder o meu filho Fabrício [Carpinejar, patrono em 2021] e, também, pelo aniversário da minha terra. Feliz pelo calor humano e pela valorização do livro. É um espetáculo que não existe em outro Estado, salvo aqui no Rio Grande do Sul”, celebrou Nejar.
Para o presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Maximiliano Ledur, a escolha do patrono é um reconhecimento à extensa contribuição de Carlos Nejar à literatura brasileira. “É uma honra prestar essa homenagem a este escritor gaúcho que traz em sua obra, que é atemporal, a afeição pelo Estado. É a oportunidade das novas gerações conhecerem a fundo publicações importantes, como O Campeador e o Vento (1966), Canga (1993) e tantas outras”, destacou.
Um dos mais importantes poetas da sua geração, Carlos Nejar lançou seu primeiro livro, Sélesis, em 1960. De lá para cá, foram dezenas de obras reconhecidas. Seus trabalhos mais recentes são Senhora Nuvem (Life Editora) e A República do Pampa (Casa Brasileira de Livros) e foram lançados neste ano, em sessão de autógrafos no Theatro São Pedro. E ainda há outras obras prontas, aguardando publicação.
“Livro na gaveta é fantasma. Os originais incomodam como almas penadas. O livro saindo, eu me liberto. Vem a oportunidade, eu publico, mas tenho muitos livros inéditos. Sou um operário, obstinado, perseverante. Amo a palavra e sei que ela me ama, é um amor com reciprocidade. Mas também é muito trabalho. O dom é como um sopro, mas é preciso a voz, a entonação. Quem cria dá a entonação, é uma marca registrada. O poeta é um ser solitário. Escrever é uma maneira de estar com todos, dar fim à solidão, habitar o mundo”, explicou.
Reconhecimentos
Procurador de Justiça aposentado, há três décadas Nejar vive no Rio de Janeiro. O Rio Grande do Sul, no entanto, permanece vivo em sua literatura. O amor pela cultura gaúcha está presente em sua obra, em especial por sua ligação com o pampa. Inclusive, em 2018, foi lançado o dicionário Carlos Nejar: Um homem do pampa, com mais de mil trechos de obras do escritor. A publicação foi organizada por Luiz Coronel e lançada pela Editora Mecenas.
Nejar recebeu diversos prêmios literários no país, mas o reconhecimento de sua obra rompe fronteiras. Em 1993, a publicação norte-americana Quarterly Review of Literature destacou o gaúcho como um dos grandes escritores da atualidade – era o único brasileiro. Em 2002, foi citado entre os 10 poetas mais importantes do Brasil pela revista Literature World Today. O patrono ainda foi considerado um dos 37 poetas-chave do século, entre 300 autores memoráveis, entre 1890 e 1990, pelo crítico suíço Gustav Siebenmann, em Poesía y Poéticas del Siglo XX en la América Hispana y el Brasil, em 1997. Em 2017, Carlos foi indicado ao Nobel de Literatura.
A 68ª Feira do Livro de Porto Alegre será realizada em formato presencial, entre os dias 28 de outubro e 15 de novembro, na Praça da Alfândega, no Centro Histórico de Porto Alegre e em trechos da Rua dos Andradas, Travessa Sepúlveda e Rua Cassiano Nascimento, além de diversos espaços culturais.